Saímos do bairro do grito da
independência. Minha irmã de coração, Marina, a melhor companhia de programas
de índio, e eu, com a rota traçada: vamos visitar as principais livrarias da
região da Paulista. Escolhemos quatro. Apontamos nossos guarda-chuvas para o
céu e desembarcamos na estação Consolação.
Primeiro, tratamos de cuidar da
fome matinal e demos conta de um croissant na chapa na Bella Paulista. Depois,
fomos em direção à nossa caminhada que teria cheiro de livro novo. E de café
fresquinho também, já que não pode faltar um bom café dentro de uma loja de
livros. Nosso passeio, que invejaria Gutenberg, foi muito cansativo. Porém,
encantador. Nada pode ser mais agradável do que livrarias, principalmente para
uma estudante de Letras. Sinto como se estivesse dentro de meu melhor abrigo.
Com novas inquietações a cada virar de página.
Tudo começou na Alameda Lorena...
Livraria da Vila – Loja Lorena
(Alameda Lorena, 1731)
Uma estante singular. Foto de Ana Montecinos |
O que há de mais surpreendente: uma estante redonda de livros localizada no meio da livraria. Literatura Brasileira, diz uma das placas.
Em cada cantinho, há um livro que
quer ser folheado. É essa impressão que tenho desta unidade da Livraria da
Vila. Há estante de livros até em cima das portas dos elevadores. E vários
andares que se desdobram, se revelam. Um andar apenas para a literatura infantil,
com ar de primeiro contato com o livro. Uma escada com obras até o teto,
impossíveis de serem alcançados sem o auxílio de escadas. Outro andar para a
música e para o café. Sofás feitos de jeans. Ao fundo, vejo a faxineira da
livraria lendo passagens de um livrinho em voz alta. E muitas babás vestidas de
branco com seus filhos temporários. O Jardins tem dessas.
Não há muita ordem para os livros.
Me perco nas seções. E acho que a proposta é essa. Entro na livraria e a escuto
me desafiando: descubra-me.
Livraria Cultura – Loja Conjunto
Nacional (Avenida Paulista, 2073)
Os puffs da Cultura |
O que há de mais surpreendente: os puffs e decks de madeira dispostos no primeiro andar da loja, prontas para acolher leitores ansiosos.
Atualmente, é minha livraria
favorita em São Paulo. Não lembro quando foi a primeira vez que estive lá, mas
hoje se tornou quase um hábito ir à Cultura e passar algumas horas lá dentro.
Seja para encontrar amigos por acaso ou com hora marcada, para passar o tempo, para
tomar um café, para ir ao teatro. Para me ajeitar em algum puff ou poltrona para
degustar alguma publicação. O espaço é enorme, completo, com seções bem
divididas, atendimento ótimo e todo tipo de público. Taí, acho que é isso o que
me atrai mais nesta livraria: executivos, estudantes malvestidos, dondocas,
artistas, aposentados, crianças... todos no mesmo ambiente. Um resumo da
miscelânea de São Paulo em um prédio.
FNAC – Loja Paulista (Avenida
Paulista, 901)
Estante de Literatura Brasileira no segundo andar da loja |
O que há de mais surpreendente: quase nada. Esforcei-me muito para procurar o que mais me chama atenção lá, mas o desgaste foi em vão. A única coisa que me atrai na FNAC são as promoções que vira e mexe aparecem no site, a um clique de distância.
Tenho a impressão de que a
livraria está na loja porque alguém mandou ela ficar lá, por dever social ou
qualquer coisa assim, disputando espaço com os tablets, notebooks e câmeras
digitais do andar de baixo. Lembra-me muito a Saraiva, que expõe o livro como
mero produto comercial, quadrado, sem respeito ao leitor que precisa de um
lugar hospitaleiro e confortável para sentir o livro.
Detesto.
Livraria Martins Fontes – Loja Paulista
(Avenida Paulista, 509)
Do térreo ao mezanino |
O que há de mais surpreendente: a escada caracol (que morro de medo) que liga o leitor ao mezanino em um incrível aproveitamento de espaço. O curioso é que, diferentemente das outras livrarias, a Martins não vende CDs e DVDs. Só livros!
A primeira vez que estive nesta
livraria foi há uns dois anos. Procurava por um livro de Vinicius de Moraes,
queria presentear uma amiga apaixonada pelos sonetos do poeta. Topei com a
livraria no susto e, quando vi, já estava lá dentro. Nem sabia da existência. Tudo
é muito apertado nesta loja e é comum ver clientes sentados no chão, à procura
dos livros das prateleiras mais baixas. No dia que procurava por Vinicius,
permaneci por volta de meia hora sentada no chão, decidindo-me qual seria o
melhor soneto, o melhor título, a melhor edição. O melhor presente, afinal. E,
desde então, sou frequentadora dos chãos da Martins Fontes.
E assim, terminamos nossa
exploração pelas livrarias. Exaustas. E felizes. Com a sensação de termos
deixado um marcador de páginas em cada livro folheado, em cada paixão pela
palavra e em cada loja que passamos. Prontas para uma nova visita.
3 comentários:
Parabéns Camilla, uma ótima postagem, agora só falta uma visita pelos melhores sebos da cidade hehehe. E aproveitando Feliz Ano Novo.......
Muito legal Camilla. Não conhecia a Livraria da Vila. Vou passar por lá nessas férias!
Gostei! Vamos fazer uma outra pauta? Uma que voce possa ir comigo? Hihihihi :)
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