Gerundiando, gerundiando...

"Um momento, que eu vou estar passando a ligação para outro setor".

 Não é por que agora Ariel é operadora de telemarketing (conseguiu o emprego há dois anos!) que o gerundismo a persegue. Nos conhecemos há 20 anos, e a vida inteira a menina foi assim: um misto de ir estar vivendo com ir estar sonhando. E nunca ir estar realizando suas maiores vontades.

 Ela parece adiar, ou melhor, pro-lon-gar todas as suas ações. Nunca faz, sempre vai estar fazendo. E, de ir estar fazendo em ir estar fazendo, nessa malemolência que é o gerúndio, nunca está inteira.

Em todo o tempo está a caminho de ser feliz.

 Tem gerúndio que de fato vale à pena ser pronunciado. Geralmente, o gerúndio das coisas alegres. Todo final de semana sossegado deveria ser um gerúndio - e acabar apenas na oração seguinte, de preferência, em outro parágrafo. Verbos bons, ah, esses só deveriam existir no gerúndio.

Gerundiando, gerundiando, gerundiando...

 Já tentei explicar para ela:

 - Você deve falar "fazer" e não "vai estar fazendo", Ariel.

 - É o tal do gerundismo, né? - respondeu-me a menina, com olhos tristemente voltados para baixo - eu tou tentando, mas é difícil. No futuro, eu vou estar falando certinho, sem tanto ando... Endo... Indo.

 - Não é só isso. É questão de atitude e objetividade. Seus verbos devem ser mais claros e imponentes! Seus discursos não são completos assim, com tanto gerúndio; parecem sempre a um triz de acontecer... Sem finalizarem-se.  

 A coitada mal entendeu. Continuou com os gerúndios e com a moleza, à espera de algum milagre.

Em se tratando das nossas realizações pessoais, o imperativo é que deveria predominar. "Faça isso!", Ariel diria aos seus sonhos. Para o danado ir lá e se tornar realidade.