quinta-feira

Desordem temporal?

De um lado da família, somos em cinco netos. Sou a penúltima. A diferença de nossas idades cresce de três em três anos. Uma escada.

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Em um momento da nossa infância, os cinco netos passaram um bom tempo juntos, para a alegria da Dona Tetê. Recordações não faltam. Pena que ficaram estáticas no passado; e só são mexidos, revividos, por meio das lembranças. É engraçado: em um piscar, um suspirar, um mover dos pés... Virou passado. (Como o presente é curto!)

Era engraçadíssimo escutar as conversas da Dani, a prima mais nova, nos tempos em que ela ainda parecia com a Betty Boop. Eram diálogos de quem ainda observava os mistérios do mundo, tentando achar lógica nas tantas linhas do tempo cercadas por nós diariamente. Frases como "ontem eu vou à escola" ou "amanhã eu fui ao aniversário da Fulana" confundiam a cabecinha de uma nova descobridora das barreiras do tempo.
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Em nossas conversas diárias, lidamos, de forma tão íntima, com três assuntos indispensáveis para qualquer prosa do cotidiano: passado, presente e futuro. Formamos laços, links, pontes, com coisas que não podem se encontrar, pois ficam presos, quase exilados no seu espaço, "no seu quadrado". Passado não é presente, presente não é futuro, futuro não é passado.
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O tempo foi cortado em pedaços. Por convenção.

Ainda assim, usamos todos os tempos verbais, naturalmente, em qualquer texto - oral e escrito. Tem vezes que nem nos damos conta das diversas linhas do tempo que formamos, relatando discursos, inclusive, banais.

A Nina, minha prima mais velha, é historiadora. Mais do que muita gente, ela conhece detalhes incríveis do passado. Há quem diga que, por conseguir relacionar diversos fatos do passado, talvez ela consiga entender melhor os dias de hoje. Concordo. Ela estuda, pesquisa, registra, durante o trabalho, fatos do ontem, aqui no hoje, para o amanhã. Uma das poucas pessoas que junta todas as plataformas temporais... Ao mesmo tempo!
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A persistência da memória - Salvador Dalí

5 comentários:

Unknown disse...

Camila: confesso que chorei. Pela sua linda forma de lembrar do nosso passado de netos da dona tetê. Seu talento pra escrever. Ninguém falou de maneira tão simples e linda sobre a profissão que eu escolhi. Valeu mesmo! Seu blog tá demais!!

George Wootton disse...

Camilla, vamos então lembrar de uma pergunta impertinente que um tio chato sempre fazia, todo santo dia que te encontrava:
"O que você aprendeu hoje?"
Só pensa, não precisa responder...
E assim você vai descobrir como juntar as fatias temporais e criar a unicidade do teu existir!
Escrever é desafiar esta dimensão...
Você tem o dom de criar momentos e tempos...

Beijo

Mary disse...

Eu só posso dizer uma coisa:
Essa é minha família!
Bjs

Brian Wootton disse...

Amada prima...
Vc sabe q nao eh de hj, nem de ontem que eu te amo e tenho uma enorme admiracao por vc...
é de SEMPRE!!!
existem coisas q acontecem em nossas vidas q ficam marcadas no passado, e ai como nossa querida Nina faz, ela olha o passado pra enteder o presente.
e entendendo o presente, a gente sabe... q o maior presente mesmo, é ter alguem como vc na familia. Tenho orgulho de ter uma prima como vc Cacá e esse orgulho nao vem do passado, do presente ou do futuro...
ESSE ORGULHO É DE SEMPRE!!!

Camilla Wootton Villela disse...

Eu seria muito pouco sem vocês. Amo muito e agradeço cada momento.