começo de período, verso ou citação e os substantivos próprios de
qualquer espécie devem sempre ser assinalados com letra maiúscula, diz a
gramática e a convenção autoritária. tempos atrás, dei para questionar essa
grandiosidade com uma amiga (também grandiosa), que se recusava a escrever deus
com dê maiúsculo por considerar isso uma afronta. "afronta?",
perguntei. depois de muitos dias, veio a resposta e eu entendi que a ideia era
de talvez tentar tornar a divindade alguma coisa mais próxima de nós, meros
mortais, apenas por meio de uma letra minúscula. então, lembrei das
formalidades do "eu" em inglês, de joão, de maria, da nação, do
título de meu livro de cabeceira e, quase numa poética das coisas sem
utilidade que manoel de barros faz lindamente, comparei com a casa, o sol, a
pedra, a felicidade e o medo. o que realmente faz com que um grupo pertença a
uma parte da elite das maiúsculas e o outro, dos comuns minúsculos? como estou
em uma fase muito sem cerimônias, sinto-me incapaz de escrever qualquer coisa
com letra maiúscula, nem deus ou nome próprio. assim fica todo mundo do mesmo tamanho e tudo fica muito
mais simples.
*
p.s.: mas, mesmo assim, ainda resta uma última dúvida: escrevendo deus com dê minúsculo, quem incomodo mais: deus ou a gramática?
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