O parquinho está vazio

Lá no alto, cercado por quatro paredes, está o silêncio. Folhas mudas, antes, motivo de angústia, e riscos que correram contra o tempo repousam presos em um armário trancado. Avaliar com nota era o único jeito? Uma pilha sem graça de sulfites xerocados, com violentas marcações vermelhas, começa a empoeirar. São tantas folhas que passaram por lá. Dariam uma floresta.

Nos corredores, apenas póstumos vestígios deixados pelas sujeiras dos pés. O sinal sonoro também é lembrança. Ambientes frios, cantos largados – ideais para a instalação de teias de aranha. Não há lancheiras fartas, não há advertência pela falta de uniforme, não há conhecimento sendo construído.

No país do futebol, uma bola dorme quieta no centro do gol. Ainda restam alguns pedaços de comida e embalagens plásticas no chão. Nem a água quer andar pelos canos. As mesas e cadeiras, involuntariamente, vivem em completo marasmo. Dois nomes com um coração entre eles, pichados na porta do banheiro, quase somem.

Por onde andariam aqueles que, antes, compartilhavam conversas nas filas, finais de semana e lições? Que amadureciam juntos, falavam mal dos iguais, angustiavam-se? Que tinham dúvidas sobre o viria, que chorava pela recuperação, que fugia do diretor? Que dizia “presente”, que tinha raiva de Exatas, que temia o vestibular? Que se sujava de barro, que lia a primeira palavra, que ganhou o primeiro beijo? Que fazia maquete de Ciências, teatrinho para Literatura e trabalho sobre a Grande Guerra? Que ensaiava para a quadrilha, que tirava foto para a rede social, que fazia planos?

O olhar voltou ao parquinho. A grama crescendo.

Os brinquedos, todos parados. Aqueles que usufruíram da brincadeira no passado, não pisavam no gramado. Nem os de infância recente e hematoma no joelho. Por um instante, o vento pareceu brincar com a balança, sendo desajeitadamente empurrada.

O que aconteceu?

Olhou o calendário. Descobriu: é a paz extremada das férias escolares.