Há algumas semanas, ouço do meu quarto, sempre por volta das dez e tantas da noite, o som de um piano. Sinto algo prazeroso me invadindo. Fico sentada em minha cama, comportadinha (embora inquieta), apenas sentindo. E até prendo a respiração, para ouvir melhor.
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Tive vontade, naquele momento, de saber o que sente quem toca esse grande instrumento. E foi assim: uma competente pianista, amiga de uma querida amiga, disse que tocar piano é materializar toda sensibilidade e emoção por meio das mãos; que é atingir um estado de satisfação, de bem estar, de paz, de plenitude. Diria mais (que ousadia a minha!). Vejo a música – a arte – como o esforço para encontrar.
Talvez fique mais claro: pude novamente experimentar a sensação do esforço pelo encontrar na semana passada. O que senti ao ouvir o som de um piano na estação Santana – turbulência de pernas e pressa nas escadas? Senti procura.
Pelos porquês, pelos para quês, pelos sentidos, pelos relógios até.
Procura muito semelhante ao som do piano que ouço de meu quarto: de qual andar virá? Em qual outro lugar encontrar?
E não é só com os pianos. É, também, com os muros pintados. Com a poesia de Manoel de Barros dentro de um café na Augusta. Com o curta-metragem que passou na Internet. Com a estátua viva na Xavier de Toledo. Com o fotojornalismo na exposição. Com a peça infantil em um teatro lotado de Higienópolis. É tudo procura.
Pergunto-me, então, se eu encontro. Descubro-me.
Beco do Batman (Vila Madalena), em 2009 |
4 comentários:
Pra mim, a fotografia é um eterno descobrir. É, principalmente, descobrir mais sobre eu mesmo em olhos alheios.
Tem um piano também na Estação Sé, onde logo cedo, 7 da manhã, alguns evangélicos tocam e cantam procurando Deus.
E, nos EUA, foram colocados 88 pianos nas ruas para quem quiser tocar...
[Silver] "Tem gente que canta procurando Deus!"
As vezes penso na arte como uma procura, como um explodir é uma maneira de jogar-se, seja para os olhos, para a mente, para os ouvidos, para o paladar...pela vida doutro!
Gostei da sua captura.
bjÕs!!!
Sim, a Arte é a aquilo que nasce enquanto procuramos a nossa própria Alma, é a descoberta dos dons que fazem a Ponte entre o "dentro" e o "fora" do nosso ser.
O som do piano distante representa um chamado, para que cada um, a seu modo, busque desenvolver está "ligação" através da qual deixaremos uma contribuição original para o mundo.
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