Pro Matheus
A luz do sol espreguiçando-se confunde minha vista imperfeita. Mal percebo o dia, apenas o Edifício Quatiara na minha frente. É grande. Maior ainda, seu narrador. O vento frio de inverno da noite passada continua a assobiar e traz nele as novidades habituais de uma cidade que amanhece.
Qual será o tamanho de São Paulo?, pergunto-me.
Agora, não é maior do que esse prédio, inquieto, que quase não suporta meu inclinar com a cabeça para trás. Alcanço o último andar, mas não foco nele. Vejo – ou imagino? – um dos moradores bebendo água da torneira. Estaria preocupado com um tempo verbal que nunca vem, opaco e indeciso? Com combinações alfanuméricas e o que fazer com elas? Ou era falta dos que estão longe, consanguíneos, também bês positivos? O vento insiste, cubro minhas orelhas com o cachecol e vejo parte de alguém dançando desajeitadamente no quarto andar.
Na rua, desvio das vassouras para não atrapalhar o trabalho dos homens de laranja. Não entro. Sigo meu caminho querendo esbarrar em alguém com nome no plural – e tão singular! –, explorando ruas, bairros e trânsitos sem muita pretensão. É sábado e, em uma das janelas, um gato assiste preguiçosamente a pomba branca que voa rumo ao alto. Inconformado por não saber voar, porém, ele dá o bote. E a devora.
Será que todos os moradores do edifício assistiram esse episódio por completo?
4 comentários:
Grande Camilla dialogista. Tocou no fundo do coração.
Matheus, obrigada pelo post, pelo comentário e pela amizade.
Um beijo.
Da janela que estava assisti um pouco diferente: vi a gato dando o bote, e a pomba branca pegando o bote e atravessando o rio.
Camilla , to passada.Voce manda muito bem!É uma escritora completa.Que bom descobrir seu blogue!Parabéns!
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