Na semana passada, andando pela rua, vi duas meninas de infância transbordando brincando na calçada. Elas falavam em “era uma vez” e “faz de conta que”, de maneira natural e familiar ao lúdico. Inesperadamente, saindo do mundo dos animais que falam, dos objetos mágicos e dos finais felizes dos contos maravilhosos, pularam e deram um grito: “mundo real!”. Fizeram isso sincronicamente, abrindo os olhos, com as mãos para cima.
Como aquelas duas menininhas conseguiram sair do universo da ficção como se nada tivesse acontecido – e com apenas um pulo e uns dizeres, cerimoniosamente – quando ela gruda e nos invade a todo instante? A volta da ficção ao “mundo real” não é algo simples; esse retorno nos enriquece e, por isso, é como se voltássemos diferentes de antes. Como elas podiam saber que, depois do pulo, já estavam naquilo que chamam de real? A ficção não se alimenta da realidade, confundindo-se? Ou a ficção é mentira, apenas imaginário? Parece que a ficção é um pacto, dentro de um mundo próprio, que nem sempre é convencionado.
Bertioga, abril/2011 |
Um comentário:
A ficção, os sonhos, a fantasia, a arte, os entendimentos espirituais, as coincidências, os milagres, os anjos, estão sempre nos lembrando de que a "realidade" tem muito mais dimensões do que aquelas que estamos acostumados a ver.
As crianças tem os sentidos mais abertos para o "mundo natural" com múltiplas dimensões, já os adulto se fecham no 3D e portanto numa "realidade artificial". Precisamos trabalhar para reencantar o mundo, derrubando os muros que existem na nossa consciência.
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