Fui ao habitual ponto de ônibus e procurei por Afonso. Por seus óculos redondos, por seu rosto magro com espinhas bordadas, por sua blusa de moleton gasto sambando em seu pouco corpo. Elástico no pulso. Procurei pelas bolachinhas que Afonso leva dentro do tupperware em formato de pão de forma. Pela mochila vestida na barriga, feito grávida. Pelos cadarços, sempre muito bem amarrados, sufocados. Pela calça jeans. Azul clara. Dois bolsos grandes. Procuro por ele entrando no ônibus antes de mim. Como o usual oculto.
Distingo, até onde a vista alcança, meu - nosso - ônibus aproximando-se.
Cadê Afonso que ainda não chegou?
Alguém faz sinal. O ônibus para. Entro. E sigo o caminho incompleto.
2 comentários:
Esse Afonso é um safado por ficar fugindo/se escondendo.
Sim, nós fazemos parte da paisagem do dia a dia.
Será que somos gratos por aqueles que transitam na nossa paisagem.
E, de que maneira contribuímos na paisagem dos outros.
Um grande filósofo refletindo sobre o "eu" disse: "Eu sou eu e a minha circunstância."
O sentimento de "incompletude" é um reconhecimento de que somos todos um.
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