Chegou o momento de fazer as
malas. Providenciei algumas blusas para o inverno europeu que me espera, ainda
estou me decidindo quais sapatos levar, já sei qual calça não irá e qual
vestido não pode faltar. Mas, e os livros, meu São Francisco de Sales?
Vejo meus títulos de cabeceira e
o tamanho da mala. Qual irá me fazer companhia no avião? Devo reler algum de
meus clássicos ou me aventurar em algum escritor que ainda não conheço? Prosa
ou verso? Conto ou romance? Crônica ou poesia? Livro-reportagem ou teoria da
literatura?
Penso no que tenho em formato digital.
Isso já está no pen drive, no e-mail, nas nuvens. Mas, e os que não
estão? E os que têm página, cheiro, textura, movimento e até dedicatória?
Vagueio pelas lombadas que estão na prateleira. Uma de cada cor, cada espessura, cada tipo de letra. Os dedos
acompanham os olhos. De qual precisarei mais? Como saber? Como prever?
Lembro de Gil Vicente, Pessoa, Saramago.
Seria justo levá-los à terra natal deles. Mas, e Clarice? Devo levar Joana, os
restos de um carnaval e Macabéa? O que fazer com Lygia e suas meninas? Com a
literatura marginal do Ferréz? Com as vidas invisíveis de Brum? Com a linguagem
apaixonante do moçambicano Mia Couto?
A cadela Baleia me fará falta? E
se sentir saudades de São Paulo, precisarei de Ruffato e seus cavalos sem nome?
Alguma poesia do poeta de Itabira será necessária? E Cecília? E Vinicius? E João Cabral?
Os contos de Lima, as crônicas de
Rubem Braga, o menino Manoel de Barros, o leite que se derramou de Chico, parte
alguma de Gullar, a semana modernista de Oswald, Mario de Andrade, Bandeira, a
Capitu de Machado, os irmãos Campos, Kafka, Shakespeare, Poe, Woolf, Saint-Exupéry,
Leminski, Borges, Maiakovski, Pignatari, Brecht, Wilde...
Decididamente, eu preciso de
ajuda: com que livro eu vou?
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