Da fila do banco deu para ver, próximo à seção de empréstimos, um jovem casal brincando com seus bacuris. Dois moleques, com diferença de idade inferior a dois anos. Bichinhos lindos! Os pais, queimados do sol, calçavam havaianas coloridas; ela agarrava-se a um guarda-chuva, encaixado debaixo do braço; ele tinha barba cerrada, etiqueta do shorts aparecendo e celular no bolso de trás.
Mostravam-se inquietos. Felizes. Seriam sempre? Brincavam com suas crias feito crianças. Rodavam o menor, jogavam-no para o ar, faziam-lhe cócegas. O mais velho corria para todos os lados, da porta giratória até os caixas eletrônicos, em piruetas e cirandas com mainha e painho.
Estavam lá para sacar uma parcela da riqueza que acumularam no breve espaço de tempo na São Paulo do emprego e do patrão. A sustância de Sampa. Eles não eram a família de retirantes de Graciliano; nem os Severinos de sangue com pouca tinta, de João Cabral. Representariam a nova geração de sertanejos fortes, formada por Wallaces, Wellingtons e Wilsons, todos com registro de nascimento no cartório.
Retirantes, Cândido Portinari (1944) |
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