domingo

O vendedor de flores

Esse foi publicado na Revista Transa - do Centro Acadêmico Clarice Lispector.

Que turbilhão diário de sensações atinge o vendedor de flores! Seu cotidiano chega a ser um buquê de emoções. Dos outros.

 Todos os dias, passa por ele todo tipo de gente. Tudo que é modelo de freguês. Tem apaixonado que quer rosa vermelha para a namorada. Tem casal de amigos que quer margarida para o bebê que chegou. Tem viúva que quer coroa de flores brancas para o velório. Tem mãe que quer violeta para a filha aniversariante. Tem filho que quer arranjo para a mãe. Tem arrependido que quer girassol para se desculpar. Tem saudoso que quer flor do campo para se despedir. Tem marido que quer hortência para comemorar as bodas. Tem amante que quer cravo para provocar. Tem dona de casa que quer copo de leite para enfeitar a mesa. Tem amigo que quer tulipa para presentear. E tem quem sofre de amor indeciso e destrói as flores fazendo bem-mequer. Ou mal-me-quer?

 O vendedor de flores lida com os mais diversos sentimentos no mesmo dia. Na verdade, só é obrigado a conviver com o sentimento da clientela. Vê chegar à sua banca pessoas frágeis e pessoas com alegria estampada na cara, porém, todas atraídas pelo perfume e cores das flores – algumas com aroma de morte; outras, com cheiro de vida. O vendedor sente vontade de aconselhar quem chega enfraquecido. Tentar ajudar. Mudar o rumo de algum destino. Mas, do que sabia da vida? Além de flores, troco e clientes, de mais nada tinha conhecimento. Tinha gente que achava que o vendedor de flores era uma espécie de psicólogo no ramo da botânica. Mas não era. O pobre mal sabia resolver os próprios problemas. Ele também era humano, igual aos outros, pagantes, devedores ou concorrentes.

 Um dia, chegou à conclusão de que, assim como as flores, que morrem com o tempo, os sentimentos humanos também murcham. E reflorescem. Percebeu que ele se ocupa mesmo é com a brevidade. Flores, sentimentos, vida, dinheiro. Tudo é efêmero. Menos a primavera, em constante renovação, dentro de uma banca de flores.

6 comentários:

Mary disse...

Bom dia, flor do dia!
Adorei o texto! E a foto!
Bjs

José Anderson disse...

[Silver] Acho que perdi a pratica, se bem que essa semana quase comprei flores por amor, por falencia, por amizade, pra enfeitar, pra fletar...
Essa semana no busão segurei as rosas de uma moça, ela ao menos estava feliz.

bjÕs!

Bruno disse...

Zé, seria uma ótima opção vc ter comprado flores pra flertar! Teria surtido um melhor efeito... hahahaha

Cá, belísssssssimo texto, como sempre...
Belissimas ilustração também. Foi vc quem tirou, né?

Ó... corre lá no blog e veja mui me redimento com vc. rs

Bjoss!

Anônimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Bruno disse...

É impressão minha ou não tem mais o link pra comentar na postagem sobre o IBGE?

Camilla Wootton Villela disse...

hahahaha, ai, vocês dois!

Aqui tá tudo normal, com relação ao link "comentar" no post sobre o IBGE!