quarta-feira

Sacolinhas plásticas e a cigana Beatriz

 Você não deve ter chegado nesse mundo tão recentemente a ponto de não observar que a sociedade está mudando. Bem aos poucos, como costuma ser em momentos de mudanças. Não é mesmo? Se formos comparar com um passado recente, coisa de pouquíssimas décadas atrás, é fácil concluirmos que mal se sabia sobre aquecimento global, poluição ou a necessidade da reciclagem. Hoje, esse tipo de assunto é discutido nas escolas, cobrado no vestibular e falado no cotidiano, pela mídia e pelas pessoas comuns. Mas as alterações nos hábitos sociais não surgem de uma hora para a outra. 
 As sacolinhas plásticas, por exemplo: Antes eram sinal de modernidade; hoje, malfeitoras vistas como pragas que ameaçam o meio ambiente. Em quase sessenta anos (as sacolinhas plásticas foram criadas no final dos anos 50), a postura das pessoas mudou. Temos mais consciência e tentamos criar soluções e artimanhas para a diminuição e adaptação do consumo. É o chamado consumo consciente, que vem aos poucos. Não é para menos, pois os dados são assustadores: 
 13% dos consumidores possuem o hábito de usarem duas sacolinhas juntas, a fim de torná-la mais forte. 61% dos brasileiros ocupam menos da metade do espaço que existe em uma sacola. São consumidas 18 bilhões de sacolinhas de plástico no Brasil, por ano. 500 bilhões no mundo. Dessas 500 bilhões, 0,6% são recicladas. 
 Por outro lado, o uso de uma sacola de tecido (as ecobags, por exemplo) economiza seis sacolinhas de plástico por semana, quando não mais. São 24 por mês. 288 por ano. 22 179 por média de vida (77 anos, aproximadamente). Se uma em cinco pessoas, no Brasil, fizer isso, vamos economizar 833 817 600 000 durante nossas vidas. (Fonte: O mal das sacolas plásticas).

 Vou contar duas historinhas: 

 Um dia, fui comprar um sapato em uma dessas lojas grandes, cheias de vitrines, que tem no centro. Achei o que queria e fui pagar. Quando o cara do caixa pegou o meu sapato, que estava dentro da caixa de papelão, e foi colocar dentro de uma sacola plástica, eu disse que não precisava. “Estou com a minha mochila, e o sapato já está dentro da caixa. Não precisa da sacola!”, eu disse. “Mas eu tenho que colocar dentro do saquinho”, respondeu-me o caixa. O resultado foi que eu repeti que não precisava, ele me olhou feio, não fez o que eu pedi e me entregou o sapato com caixa e sacola. “São ordens da casa”, respondeu-me, grosseiramente. Minha mãe disse que talvez seja por segurança, para não acharem que eu estaria roubando o sapato da loja. Eu fiquei brava e sai bufando, com a porcaria da sacola praticamente enfiada nos braços. Não teve acordo.
 Em outro dia, fui à Livraria Cultura comprar um livro. Na hora de pagar, disse ao caixa que não queria sacolinha, pelo mesmo motivo: Estava de mochila. “Que bom, menos uma!”, respondeu-me, simpaticamente e em olhos azuis brilhantes, o caixa. Sorri, paguei e fui embora feliz da vida.
 Foi tão mais simples...
 Quando não queremos a maldita da sacola, temos quase que lutar com o caixa ou com quem mais for para não aceitar. Até quando vamos comprar pão, que já vem com o saco de papel protegendo. "Pra que a sacola plástica? Eu NÃO quero!".
 Uso racional das sacolas plásticas é um hábito que ainda é noviço e, como bom principiante, ainda não foi implantado definitivamente em nossa sociedade. A começar por um embate: Nos supermercados, sacolas ecológicas têm preço de grife. Dessa forma, é mais fácil pegar a que vem de graça, de plástico e que polui, ou gastar dinheiro com algo caro e aparentemente desnecessário?
Esse post acabaria aqui se não fosse a cigana Beatriz.

 Na saída do metrô Ana Rosa, já na Rodrigues Alves, recebi um papel de propaganda, daqueles que enfiam um ou dois na sua cara, vindos do bolinho de milhares que tem na mão da pessoa que te entregou. Cigana Beatriz, a cigana das ciganas. Tudo sabe. Atrai seu amor em três dias. Tarô. Baralho cigano. Esoterismo. Em papel jornal 10x10, impresso com tinta azul vagabunda. Poucos leem o conteúdo. Automaticamente desviam os olhos, amassam e jogam em um canto qualquer, geralmente no lixo. Eu li, ri pela cigana se chamar Beatriz, nome de uma grande amiga, e amarfanhei o papel fedido no bolso. O que tem na cabeça das pessoas que mandam distribuir esses papéis de propaganda pelas ruas? Sempre papéis ordinários, impressos toscamente, de planos de saúde, planos dentários, oportunidade de emprego para vendedor de tupperware. Mal sabem os donos das empresas que mandam distribuir esses papéis – ou, nem posso pensar, sabem e se lixam – como isso é venenoso para o meio ambiente.
 Os danos que o papel pode causar ao meio ambiente são menos drásticos que o plástico, afinal, leva-se de três a seis meses para a decomposição. Em sua reciclagem, pode-se produzir papel novo com 100% do papel usado e não exige processos químicos para obtenção da pasta de celulose, o que diminui a poluição do ar e rios (Fonte: Pintou Limpeza). Mas, ainda assim, poluem. E poucas pessoas costumam reutilizar papéis. O que custa usar o verso de um papel, por exemplo de anúncio, para anotar algum recado ou lembrete? 
 Estamos em tempos de publicidade virtual, que substituem o papel.

 Mas, como disse, as mudanças vêm aos poucos.

 Resta-nos adestrar quem ainda tem hábitos ecológicos pré-históricos e aprender com as novas gerações que estão chegando mais conscientes e com menos defeito de fabricação no quisito "meio ambiente".

*
 Compartilhamento de links: 
 Como reciclar saco plástico de supermercado (bolsas de crochê e mais)

5 comentários:

José Anderson disse...

[Silver] Essa briga com o povo do caixa é constante, eles não entendem que a porcaria da mochila serve exatamente pra isso, e a nota fiscal serve como prova que a mercadoria socada na mochila não é roubada (por mim ao menos, já que por vezes eles vendem produtos com sonegação fiscal).

Dias atrás numa loja do Shopping fui compara uma camisa e quase fui obrigado a levar uma sacolinha da marca, bati o pé e disse que já bastava a marca estampada na camisa, e que não iria fazer propanganda gratuita. rs, Claro, falei de forma amigavel pra mocinha do caixa.

Por essas atitudes rotineiras esses dias quando mais precisei de uma sacolinha, não achei nenhuma em casa... rs, mancada.

Esses anuncios de refrigerante que não são de refrigerante são os piores, ao menos no canto, bem no canto tem sempre um; "Não jogue este planfleto em vias publicas", acho que isso dá um crédito.

Enfim, logo mais quando sentir saudades volto.
(Não sei porque mas me sinto vizinho do seu blog e o do Bruno, como se o dele fosse a casa da frente e o seu a casa do lado)

bjÕs

Raquel Costa disse...

ê menina talentosa!! Vai escrever bem assim no Japão!rsrsrsrs Vou sentir saudades da PUC e das "puquianas" haha!Beijos, Quel

Camilla Wootton Villela disse...

Vizinho, como você já sabe, volte quantas vezes quiser. Quem sabe na próxima visita, eu não te sirvo um chá? haha.


Quel lindinha, vamos sentir falta de você semestre que vem. Sucesso sempre! Visite-nos por aqueles ares puquianos sempre, sempre :)

Bruno disse...

hahahahahaha, ADOREI meus vizinhos!

E friso: (frizo?): "ê menina talentosa!! Vai escrever bem assim no Japão!"

Quem já não passou por uma situ desagradável com um vendedor, né?
Eu acho que além da reeducação do povo, dos jovens, das crianças, que, falem o que quiserem, é sim o futuro do mundo... deveria ser OBRIGATÓRIO a reeducação dos vendedores, comerciantes em geral.
Gente, o povo é MUITO ignorante, em todos os sentidos da palavra.
MUITOS não fazem idéia do que é Aquecimento Global, poluição, sacolinha de plástico pra eles é como, sei lá, sacolinha de papel. The same thing!

Pq o avanço da tecnologia tem de ser tão RÁPIDO e o avanço da cabeça do povo TÃO devagar?

É... vamos por um Brasil/Brazil/Mundo melhor.

Beijos!

Bruno disse...

"Que bom, menos uma!”, respondeu-me, simpaticamente e em olhos azuis brilhantes, o caixa. Sorri, paguei e fui embora feliz da vida."

Azuis brilhantes?

Interessante...

rs