quinta-feira

No elevador



Térreo.

A menina entrou no elevador e assustou-se ao ver seu próprio rosto no espelho. O elevador já estava de partida quando, de última hora, mãos cansadas abriram a porta do elevador e a saudação de final de expediente fez surgir-se de lábios fadigados e de olhos ao chão:

- Oi! – disse o homem da calça xadrez.


- Oi! – retribuiu a menina.


1º andar


- Preciso puxar assunto... Mas conversas de elevador são sempre tão chatas! – pensou a menina – Já sei, recorrerei ao tempo. Em toda conversa de elevador temos que falar sobre o tempo. Tá calor? Já sei, a chuva horrível que deu terça-feira. Ai, mas foram sete mortes... O assunto é muito mórbido para o final do crepúsculo.


2º andar


-... O pré-sal! Isso, o pré-sal é ideal! Vou perguntar o que ele achou sobre os acordos que o Lula fez. E a Opep? Será que ele acha que o Brasil poderá entrar para a Opep?... E ainda tem aqueles caças franceses! Sete de setembro foi segunda... Vou falar do sete de setembro e já puxo para cerimônia que o presidente da França assistiu, lá em Brasília... E falo do pré-sal. Pré-sal... Não pós-sal, não vai falar besteira!


3º andar


-... e se ele nem tá sabendo de coisa alguma? E se ele não se interessa pelo pré-sal? Ele pode ser um ambientalista ferrado, que é contra todos os derivados possíveis do petróleo. Falar da Bacia de Santos então... Nem pensar! Nem pensar! Rápido, pensa em outro assunto... A no-ve-la! Sensacional!... Será que ele acompanha? Hare baba! Mas estou tão por fora... Nem sabia que o Raj tinha morrido. Quer dizer, parece que ele não morreu. É, é verdade! Caramba,


4º andar


-... o que é que eu estou falando? Ele deve estar tão cansado... E a gripe suína? Ninguém agüenta mais falar sobre a gripe suína! E alguém da família dele pode ter... Morrido! Ai Jesus, melhor nem comentar. E ele não tem cara de fumante também. Quer dizer, o que é aquilo? Ah! É um isqueiro? Vixe, ele é fumante! Ainda bem que eu nem toquei no assunto! Imagina só. Ele ia ficar nervoso... E aí já viu!


4,25º andar


4,5º andar


O botão do quinto andar estava todo aceso e começou a piscar. O elevador vai parar. Vai parar.


4,75º andar


Vai parar...


5º andar


Parou!


...


- Tchau – disse o homem da calça xadrez, dirigindo-se a porta.


- Tchau – respondeu a menina.


E o elevador continuou sua função: entregar e deixar gente.

3 comentários:

Mary disse...

Já virou paulistana mesmo!!!!
Vc escreve bem...já pensou em fazer jornalismo ?
Ou tá mudando de idéia ???? rsrsrs

José Anderson disse...

[silver] Pensamentos rapidos...

É coisa estranha de feia, você continua escrevendo muito bem.
Pode até ser jornalista... rs

Papo inicial é sempre um saco, por isso ou evito ou logo falo alguma merda, que ai ou funciona ou dá em merda...
O risco é pouco, afinal a pessoa não te conhece mesmo, que diferença fará?


bjÕs!

Unknown disse...

Realmente, criaturinha xD Quem sabe um dia não vire uma jornalista, ta escrevendo legal :D
Esse conto... tem um, se eu n me engano do verissimo, mto parecido xD mas no lugar de elevador é cadeira de dentista, e um ta querendo pegar o outro o.ô Anyway... ficou legal sim, continua ae, e quando precisar de ajuda em probabilidade, é só chamar pra eu errar mais que vc! :D